sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Cegos que te vêem.

Vou mexer na ferida.
Vou falar que todas as pessoas que eu conheço, e você, amigo leitor, que vai pensar no final desse micro-texto que eu sou um sociopata, que não faz idéia do que está acontecendo, também é.

Todo mundo, eu você, ele, nós, vocês, eles. Todos somos preconceituosos.
E não me venham com idéias incabíveis de que "eu ajudo todo mundo." ou então "eu tenho amigos gays, não tenho preconceito."
Seja ele do modo que for, ele existe, dentro de cada um.
O ser humano aprendeu desde muito cedo a notar a aparência do seu semelhante, ou você, que é popular nunca pensou que aquele nerdezinho sentado na primeira carteira poderia ser muito mais legal que aquele cara do seu lado, que te acha um merda, mas que anda com você pra dar uns pegas nas meninas que correm atrás de você? Ou ainda você, moça, que achou um absurdo aquele neguinho tentar a sorte e vir pedir pra ficar com você na balada?

São coisas invisiveis aos olhos, eu sei. Não, não estou falando do seu preconceito. Eu falo das pessoas mesmo.
Quem gosta de ficar sabendo das coisas, precisava ter assistido A Liga da terça passada, aliás, farei um post sobre cultura logo mais. Eles discutiram a "bondade" do nosso povo, nas ruas. Colocaram um rapaz, com roupas sociais, dizendo que havia perdido sua carteira, que precisava de ajuda pra voltar pra casa. Do outro lado da rua, um homem de mesma idade, só que com uma pequena diferença. Vestido de roupas simples, precisava de dinheiro porque os policiais haviam levado toda sua mercadoria de ambulante.
Resultado: o homem com um pseudo-status foi ajudado em quase todas as vezes, que passaram de dez.
Já o outro, o "pobre", foi ajudado UMA vez, depois de dezenas de tentativas.

Agora mudemos um pouco o cenário, senão você pode pensar, "Ah! Mas eu ajudaria os dois!". Vamos para uma cena que você com certeza já passou. Lembre-se daquela vez que você, mesmo estando a 300 metros de distância, mudou de calçada, pois se viu sozinho na direção do menino de rua, que te olhava aflito, precisando de um gole de leite que fosse, pra espantar a fome que já durava dias. Ninguém para e ajuda.

O brasileiro tornou-se cego e deixou os problemas sociais do nosso país ali, para as promessas de campanha política. Agora, alvo de preconceito sou eu, você, e ele. A verdade é que buscamos tanto nos afastar do adjetivo destrutivo "preconceituso" que acabamos nos tornando alvo dele.

Um comentário:

  1. Sobre o preconceito, já na sua terminologia dá para compreender: "pré-conceito", ou seja, um conceito prévio da "coisa"; em outras palavras como vc mesmo diz... aparência. Preconceito seria um conceito aparente da "coisa".
    Mas em relação a todas as pessoas serem preconceituosas, isto é fato, afinal se preconceito é formular pré-julgamentos, isso todas pessoas fazem, afinal não conhecemos tudo no mundo. O preconceito ocorre pelo desconhecimento do outro, portanto, para nós compreendermos é necessário "simbolizar" de alguma forma. Tudo no mundo para os seres humanos é simbolizado, significado de acordo com conceitos formulados pelos próprios humanos (às vezes formulados de acordo com grupos sociais, e alguns utilizam como forma de dominação).
    Eu compreendi o que você quis dizer com preconceito, no sentido de que alguns valores sociais se prevalecem mais do que as outras, ou melhor dizendo, alguns valores mais legitimados "anulam" outros valores e/ou grupos sociais.
    Isso daria um bom papo no buteco, mas já que vc não bebe...
    Continuarei acompanhando o blog... como os dois anteriores.
    PS: Nunca fiz um comentário tão comprido.

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